Metade das nossas coisas já está empilhada em caixas espalhadas pela casa.
Eu deixo assim de propósito, que é pra gente poder ver o andamento das coisas. Se eu deixasse tudo num quarto fechado, não ia dar essa sensação de mudança, que eu gosto tanto.
Gosto mesmo. Não que eu seja tipo cigana, nômade, sei lá, mas assim, de vez em quando, acho que mudar faz muito bem pra gente.
Mudar dá uma chacoalhada, uma movimentada, faz a gente rever algumas coisas, como por exemplo do que a gente precisa pra viver bem.
É como uma viagem, só que potencializada.
Quando a gente viaja precisa se programar direitinho e selecionar os itens essenciais que vão merecer um lugar na mala apertada, pra nos acompanhar por 20 ou 30 dias, e aí aprendemos como precisamos de poucas coisas nessa vida.
Quando a gente se muda, então é hora de decidir o que vai nos acompanhar pelos próximos 5, 10 ou 20 anos, e só nessa situação específica é que temos a real noção de quanta tralha a gente junta com o passar do tempo.
E tralha serve pra quê, me diga?
A definição de tralha, neste caso, não é lixo não. Tralha é tudo o que se acumula na casa da gente, sem uso. Podem ser coisas muito boas, podem ser novas, podem ser caras, podem ser incríveis, mas se não tem uso pra você, então é tralha.
Veja, bem que não só tem coisas que a gente guarda por que pode precisar um dia, e então o tempo vai passando, passando e a gente não usa a tal coisa e tal, mas quantas vezes a gente esquece que tem a coisa guardada?
Daí no dia em que finalmente a gente vai precisar da tralha que guardou por uma vida, não lembra dela e acaba comprando outra… que pode apostar, vai virar tralha também.
Confuso, né? Mas tralha é assim, deixa a vida confusa mesmo.
Aqui em casa a gente tem uma política de tralha zero. Claro que não funciona 100% das vezes, mas fazemos um esforço enorme pra não juntar coisas que não usamos e não temos perspectiva de usar.
Agora, mesmo fazendo este pequeno esforço diário de não manter tais coisas, só uma mudança pra fazer a gente ver quanta tralha se acumulou nessa casa em quase 7 anos. E o melhor: de quantas coisas a gente pode se desfazer sem que nos façam falta nenhuma.
E praticar o desapego. Essa arte de tornar a vida mais leve.
Não sei pra vocês, por que isso é muito pessoal, mas pra mim, fazer essa seleção e deixar a minha vida cercada quase só de coisas que realmente são usadas e que, de um jeito ou de outro são essenciais (pra mim, ok?), me dá uma sensação deliciosa de liberdade.
E ainda de brinde vem uma felicidade tão grande, por que o que era tralha aqui em casa e estava estacionado num canto sem uso, agora vai ser super útil pra alguém.
Então, veja só, você guarda uma coisa que pode ser que um dia você possa precisar. Essa coisa ocupa espaço na sua casa, e na sua vida. Essa coisa corre o risco de ser esquecida, abandonada, quando ela poderia fazer a diferença na vida de alguém hoje mesmo!
Sei que estou meio filosófica nessa questão toda, mas te convido pra refletir, ok?
Lahna :)
PS – Há instituições que precisam da sua tralha, para ser usada na sua estrutura ou mesmo para ser vendida em bazares para arrecadar dim-dim para manter as atividades. Algumas até fazem o serviço pesado e buscam tudinho na sua casa. Nós doamos boa parte da nossa tralha para o Cotolengo.
Imagem daqui.